Ferida de arma
desconhecida
perita, fina,
vem sem erro essa lâmina
mas vem sem motivo
Ou então o motivo
é exatamente o não-motivo
e aí está a graça
do tempo da ferida
assim é que ele
é mais divertida
Se é que pode ser assim
uma ferida
Ou meus pais
não se separam,
ou antes,
foi a morte
eu nunca tive religião,
ou melhor,
tive todas
hoje tenho uma mescla
feita de medo e máscula
uma mescla inferior
feita de morte
E vou andando atrás
de outras feridas
a dos homens
e também a dos cães,
sempre vivas
merda é que não consegui
me esconder das rimas
mesmo quando somente
soantes as putas
se empilhavam
e tapam a fenda
pois é sábio que elas
têm que respirar
as feridas
é sábio que desde
a primeira (essa do sexo)
elas precisam de ar
para manter-se vivas
e feridas.
E acabadas.
Há feridas porém que
nasceram fechadas.
Renata Pallottini
BAGUNÇA - é a idéia principal. Literatura, caricaturas, desenhos, crônicas. Tanto coisas minhas, quanto uma seleção de coisas outras. Manoel de Barros, Adília Lopes, Virgínia Woof, Maiakovisk, Ray Bradbury e, claro, Bárbara Nunes. De tudo um pouco. Se alguém se interessar.
quinta-feira, abril 27, 2006
quinta-feira, abril 20, 2006
mentirosa
comecei por uma careta disfarçada
e por aí fui
esfregando bem os olhos vermelhos
fazendo força para manter-me ereta
escondendo uma ânsia de vômito inventada
no final ela estava absolutamente certa
eu nos enganava
Bárbara Nunes (2006)
e por aí fui
esfregando bem os olhos vermelhos
fazendo força para manter-me ereta
escondendo uma ânsia de vômito inventada
no final ela estava absolutamente certa
eu nos enganava
Bárbara Nunes (2006)
segunda-feira, abril 17, 2006
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
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