Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude
Vinícius de Morais
BAGUNÇA - é a idéia principal. Literatura, caricaturas, desenhos, crônicas. Tanto coisas minhas, quanto uma seleção de coisas outras. Manoel de Barros, Adília Lopes, Virgínia Woof, Maiakovisk, Ray Bradbury e, claro, Bárbara Nunes. De tudo um pouco. Se alguém se interessar.
quarta-feira, outubro 31, 2007
Soneto do Amor Total
sexta-feira, outubro 19, 2007
Mesmo Que Seja Eu
Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão meu bem
Quando acordou estava sem ninguém
Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão
Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto prá secar seu pranto
Aumenta o rádio me dê a mão
Filosofia é poesia que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu
Um homem prá chamar de seu
Mesmo que seja eu
Erasmo Carlos
segunda-feira, outubro 15, 2007
REFLEXÕES SOBRE O PECADO, A DOR, A ESPERANÇA E O CAMINHO CERTO
O caminho certo passa sobre uma corda esticada pouco acima do chão. Parece antes destinado a fazer com que as pessoas tropecem do que levá-las a bom fim.
5
A partir de determinado ponto não há mais qualquer possibilidade de retorno. É exatamente esse ponto que devemos alcançar.
13
Uma gaiola estará sempre à procura de um pássaro.
17
Leopardos invadem o templo e bebem até à última gota o conteúdo dos cálices sacrificiais; isso ocorre repetidamente, com tal freqüência, que passa a ser possível aguardá-lo e considerá-lo parte do ritual.
20
É de nossos verdadeiros antagonistas que recebemos a coragem sem limites que nos anima.
30
Os mártires não subestimam seus corpos. pelo contrário, fazem de tudo para que eles sejam erguidos na cruz e, assim, coincidem em propósito com os seus inimigos.
39
A desarmonia do mundo, conforta-nos imaginar, parece ser meramente uma questão de aritmética.
46
A fé no progresso não implica a convicção de que algum progresso já tenha sido alcançado, pois então não seria fé.
47
Homem algum pode viver sem a crença inabalável de que haja algo de indestrutível em si mesmo. Ao alimentá-la, contudo, pode atravessar a existência sem ter a menos consciência do que isso possa ser e da confiança que lhe dedica. Uma das formas possíveis de exprimir tal inconciência talvez seja a fé num Deus à sua imagem em semelhança.
50
Na luta que travas com o mundo, torce sempre pelo mundo.
80
Fomos concebidos para viver no Paraíso, assim como o Paraíso foi criado para acolher-nos. Nosso destino foi grandemente alterado, mas nada nos garante que o mesmo não tenha acontecido com o do Paraíso.
90
Há pelo menos duas tarefas a cumprir nos albores da tua vida: reduzir cada vez mais o diâmetro do círculo que te contenha e verificar a todo instante se não ficaste escondido fora dele.
Franz Kafka
Trechos de: Contos, fábulas e aforismos
Editora Civilização Brasileira, 1993
pags 91/121
sábado, outubro 13, 2007
os pés de josiane
mania que era quase uma obrigação de todo dia
molhar os pés no chuveiro e molhar a cama com os pés pingando
se josiane não molhasse os pés
à noite
não podia dormir
sufocava
josiane não admitia qualquer comentário sobre esse hábito
um movimento que chamasse atenção sobre si mesma
a transtornava e enfurecia
ainda mais se partisse da márcia
josiane não permitia sequer um sorrisinho de canto
de boca ou de olho
mesmo que o sorrisinho brotasse em uma boca que quisesse dizer
que achava aquilo uma gostosura
uma linda idiossincrasia
como uma pontuação da personalidade
que todo dia, à noite, precisava se mostrar um pouquinho
molhar os pés era um lado todo outro de josiane
e que chamava a atenção
márcia adorava o ritual e os pés e o olhar desconfiado
que vinha depois
márcia sorria escondida, dizendo a si
que ninguém mais sabia
dos pés de josiane
mas
mesmo estando disfarçado por mais de dez mil cobertores
josiane notava o sorriso
e brigava com márcia
que tinha mania de ter o riso descoberto antes de dormir
mania que era quase obrigação de todo dia
sorrir com o canto da boca, cobrir-se até a cabeça, ser descoberta
e levar bronca
pois se josiane não brigasse, márcia não podia dormir
sufocava
Bárbara Nunes (2007)