A lembrança não era mais do que uns cabelos embaralhados pelo vento.
Mesmo assim doía.
Não tinha muita vontade de começar.
Mas o dia correria pra frente
com ou sem ela.
E assim para sempre.
É assim que funciona.
Ainda bem.
Ao levantar-se sentiu um odor ocre.
Era ainda resquício do sonho.
Sentiu-se um cachorro ao levantar-se e dar de cara com sua maneira de espreguiçar. Sacudia. Abanava o rabo.
Pra comprovar a teoria latiu
AU!
Sacudir-se era extremamente necessário.
Lembrou dos relatórios.
Inventava relatórios para passar o dia mais rápido.
Fazia o relatório do que fazia.
Vivia um ritmo imposto por uma burocracia absurda
Que lhe tirava o controle
Era uma perda sado-masoquista.
Notou os cabelos que embaralhavam a escova de dentes
de frente para o espelho
ouviu um barulho forte vindo da janela. Pensou ser um grito.
Lembrou-se de ter jogado o vaso com flores mortas
pela janela no dia anterior.
Riu-se de si. Era esperta. Espantosamente esperta.
Esqueceu-se de tudo e pegou o dinheiro do metrô.
Saiu de casa pensando, com firmeza: hoje troco os lençóis da cama.
Lembrou de Clarisse.
A vida tem seus momentos.
Bárbara Nunes (2004)
Um comentário:
Oi Barbs, adorei seu comentario no meu blog - e deixei lah um comentario ao comentario.
beijinhos!
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